Por: Alex Solnik
Não
foi apenas movido pelo sentimento de vingança que o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, deflagrou o processo de impeachment.
Agora
está ficando claro que o verdadeiro objetivo foi escapar da Justiça, ou seja,
obstruir as investigações a respeito de suas atividades pretéritas.
Se
o seu plano der certo, ele se torna vice-presidente da República e, como tal,
vai matar dois coelhos com uma só cajadada: o processo de sua cassação no
conselho de ética vai ser deletado porque ele não será mais deputado e sim
vice-presidente, assim como as acusações que pesam contra ele na Lava Jato,
pois, como vice-presidente, só pode ser processado por malfeitos ocorridos
durante o seu mandato. O passado não o condenará mais.
O
mesmo raciocínio se aplica a Michel Temer. Se conseguir assumir a presidência
da República caem por terra as delações feitas contra ele na República de
Curitiba, assim como morre o impeachment que o ministro Marco Aurélio Mello
praticamente obrigou Cunha a abrir contra ele.
Temer
vai se livrar dos dois problemas, pois, se tudo der certo, assumirá um novo
mandato, e só poderá ser processado pelo que fizer no decorrer dele, não respondendo
mais pelo que fez no passado.
Diante
da perplexidade dos que defendem a legalidade e a retomada do crescimento
econômico e do cinismo dos que mentem, inventam, camuflam e enganam os
incautos, os dois próceres do PMDB comandam um movimento em que a obstrução da
Justiça e o desvio de finalidade estão na cara, mas a sua caravana desfila com
a conivência da imprensa, o silêncio da Justiça e a histeria das ruas.
Eles
serão os principais beneficiados se o STF continuar calado diante dos fatos,
mas não os únicos. É evidente que a isca com que atraem novos adeptos é a
esperança de salvá-los também. Não por outro motivo o PP, principal implicado
na corrupção sob investigação na Lava Jato, mais implicado que o PT e o PMDB
anunciou sua adesão aos dois perdidos numa noite suja.
É
espantoso que "as ruas", esse movimento difuso, misterioso, obscuro
cuja principal bandeira é a "luta contra a corrupção" não se deem
conta de que na verdade estão protegendo os corruptos, estão servindo de biombo
para inocentar os que já têm os pés na lama e os futuros enlameados.
O
que Temer e Cunha comandam não é apenas um golpe contra a democracia e contra
os beneficiários de programas sociais; é um golpe contra a Justiça, é um salvo
conduto para continuarem arrastando o país para o buraco da impunidade, da
ilegalidade, da corrupção, dos privilégios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário