Por: Dr. Elve Cardoso.
O pior analfabeto é o analfabeto político, sintetizou Bertold
Brecht, com sua visão privilegiada de sociedade e profundo conhecedor das
mazelas decorrentes de um povo despolitizado. De fato, somente por meio do
exercício político diário, da interpretação permanente da realidade à nossa
volta, é possível constituir o que se chama consciência política, aquela
condição que torna possível ao ser humano não permitir que seus direitos sejam
violados, e que pode o conduzir também a não violar direitos alheios. É a
política o único instrumento capaz de fornecer valores democráticos. Fora da
política, resta a subserviência aos poderosos, a força dos que podem mais,
impera a lei do mais forte. A selvageria e a guerra, enfim.
Por isso mesmo, espanta a insistência dos meios de comunicação
brasileiros em demonizar a prática política, fazendo valer, com sua força de
alienação, a tese segundo a qual todo aquele que disputa espaços políticos tem,
invariavelmente, interesses menores. Em suma, os parlamentos, os governos, os
partidos seriam, na tese dos detratores, mares de podridão nos quais navegam
seres imorais.
O desastre desta tese é que macula um instrumento essencial de
transformação da sociedade exatamente porque os meios de comunicação têm seus
próprios interesses políticos. Esses, sim, inconfessáveis. Por isso, ainda
maior o crime da demonização, porque resultado de uma escolha consciente:
quanto mais despolitizada a população tanto mais fácil fazer prosperarem BBB’s
e congêneres.
Mas não apenas uma questão de empobrecer a alma do povo para
assegurar audiência aos programas imbecis. Veículos de comunicação são empresas
e os grandes grupos econômicos que os mantém sabem o valor de dominar a
informação, de aniquilar a biografia daqueles que tentam enfrentar seu poder de
determinar os rumos da sociedade – ou ao menos a tentativa de determinar os
rumos já que, nos últimos anos, a população brasileira, ao menos no que tange à
escolha de seus representantes, tem dado sucessivas demonstrações de liberdade
e habilidade.
Ora! Quantos não são aqueles que simplesmente não participam da
vida comunitária, que não se filiam às suas associações por entender que há ali
quaisquer interesses que não o do conjunto de sua própria comunidade? E este é
o menor dos males. Pior mesmo é a noção equivocada de muitos que, influenciados
por uma mídia desinformada, recusa-se a filiar-se a um partido político de
promover nessas instâncias um programa, um projeto para sua cidade, seu estado,
seu país. É doloroso saber que muitas inteligências são desperdiçadas graças à
crença segundo a qual o destino da cidade está nas mãos de algum ser iluminado,
que as melhorias virão por benevolência de algum governante, numa do
envolvimento direto e dos debate acerca dos problemas locais.
Já escrevi sobre isso e repito: a Câmara de Vereadores de
Vitória da Conquista vem dando provas de quão importante é ter representantes
comprometidos com a maioria da população. Foi graças ao governo municipal,
também, em parceria com a iniciativa privada, que Vitória da Conquista
experimentou saltos significativos de desenvolvimento. Com erros e acertos, mas
principalmente acertos, foi possível alavancar a economia local e projetar
nossa cidade. Mas a mídia local não consegue ter essa avaliação. Prefere a
sugestão simplória de que somente a iniciativa privada teria sido a responsável
por tudo. Foi ela também, mas o papel dos sucessivos governos é inquestionável.
Por isso, fica aqui a sugestão a todos os profissionais de
imprensa: nenhuma sociedade terá o desenvolvimento de ideias e de conhecimento
se for negada a participação política das pessoas. Alienar, descaracterizar a
política, partidária ou não, é uma forma sutil de construir uma sociedade
apolítica, propícia à instauração de regimes e práticas totalitárias. Buscar
separar o joio do trigo, pautar aspectos negativos da política pode significar
a possibilidade de construção de um mundo melhor, especialmente com uma
consciência política que atinja inclusive as crianças, que precisam aprender,
não a desprezar, mas a gostar do fazer político.
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