Foi
numa longínqua manhã de fevereiro do ano de 1992 que eu adentrei pela primeira
vez em uma instituição de ensino na condição de aluno matriculado, pelo portão
da Escola Estadual de Primeiro Grau Irmã Iria Kunz da periferia da Cidade de Embu
das Artes no estado de São Paulo, o mundo do saber se descortinava à minha
frente. Certamente não me continha de tanta ansiedade, haja vista meu desejo
enorme aquela altura de também ser estudante, vendo meus irmãos mais velhos
todos já o sendo, acreditava que a escola fosse um ambiente encantado de pura
diversão e alegria, descobri então que eu não estava totalmente enganado.
Os
primeiros rabiscos e em seguida a alegria de aprender a ler e escrever veio
pela didática, pelo carinho e zelo da professora Marizane. Na lembrança guardo
bem o jeito afetuoso, seu sorriso e seu jaleco, não raramente abarrotado de pó
do giz, que com seus traçados ao quadro negro nos trazia os incipientes
conhecimentos. Certamente não sabia naquele momento que algum tempo depois eu
optaria por exercer a mesma profissão de minha inesquecível professora.
Ao
longo de minha trajetória escolar, desde as séries iniciais, ensino
fundamental, médio e superior, foram muitos os professores, cada um com sua característica,
assim como com sua valiosa contribuição ao meu processo de formação, não
somente acadêmico mas principalmente na formação do caráter e de minha
cidadania. Sem dúvida que por alguns momentos senti o rigor, a exigência, e por
que não a inflexibilidade de alguns, mas na maioria das vezes senti mesmo foi o
amparo, o esforço e a alegria que muitos tinham em transmitir os seus
conhecimentos. Em todas as situações via sim pessoas dedicadas e comprometidas
com aquilo que se propuseram a fazer que fosse muito além de apenas lecionar,
mas de serem também referências em nossas vidas.
Por
vezes, ao refletir sobre meu período escolar o comparo com os tempos de hoje, a
disciplina na época por parte de nós estudantes, a freqüência com que nossos
pais compareciam à escola, o estímulo que se tinha para o aprendizado (mesmo
diante de tantas dificuldades), enfim, uma série de elementos me leva a crer
que no passado a escola “fluía” melhor.
Por que será que nos dias de hoje com tantos recursos, com tantas ferramentas e
com tanto mais facilidade de se chegar até a escola, esse processo parece não
estar dando tão certo? Resposta um tanto quanto complexa, presunçoso seria de
minha parte achar que saberia dar conta de respondê-la em sua totalidade, algo
que muitos especialistas teorizam e embora talvez saibam a resposta não tenham
encontrado o caminho para solucionar tal questão.
Já
se vão dez anos de sala de aula, agora do lado de cá do processo na condição de
professor, algo que escolhi tão convictamente querer ser, quanto convicto sou
hoje da importância e da função social inigualável que o meu ofício cumpre. Eu
diria que ainda estou principiando nesse processo e encho os olhos ao ver
colegas, homens e mulheres, que com heroísmo completam seus vinte cinco ou
trinta anos de sala de aula, quanta doação, amor e quanta sabedoria emprestada,
merecem nosso reconhecimento.
Falando
em reconhecimento, lamentável é ver que já parece clichê, tratar disso, ou
melhor, da ausência disso. Parece que se tornou algo até natural ver o
professor tão desvalorizado, tão sem reconhecimento. Diante disso temos um
problema de ordem política, uma escolha equivocada por parte de quem governa equívoco
de simplesmente achar que a educação deve cumprir sua coadjuvância ante as
outras coisas que parecem ser mais importantes: as commodities, os números da balança comercial, o caixa dois para a
próxima eleição, enfim. Fato é que enquanto não priorizarem a educação, nunca
sairemos do que outrora chamavam de “terceiro mundismo”, viveremos sempre na
condição de subalternos e nossas futuras gerações serão cada vez mais absorvidas
por uma evolução tecnológica sem precedentes, que os dominará alienadamente os
distanciando dos livros por exemplo, tudo que alguns facínoras que nos governam
querem, uma grande massa passível de ser manobrada.
Todo
dia é dia de lembrar-se da figura do professor, da importância dele e da
insuperável necessidade de que a educação seja levada mais a sério e seja
encarada definitivamente como algo essencial para o presente e para o futuro, e
também a única forma de compreender o passado.
PARABÉNS
COLEGAS PROFESSORES!
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