Nem
nos mais sombrios períodos da ditadura militar, ou mesmo no Estado Novo
varguista, a Câmara dos Deputados foi presidida por um deputado tão
flagrantemente desqualificado para o cargo como Eduardo Cunha. Desprovido do
mínimo de consciência democrática e convicção republicana, sua presença no
comando da Câmara só contribui para degenerar e desmoralizar ainda mais um
poder já mal visto pela população.
Ser
conservador até a medula é o menor problema de Cunha. Em todas as democracias
do mundo encontramos progressistas e conservadores, fisiológicos e
republicanos, reacionários de direita e esquerdistas, liberais e estatistas. É
do jogo democrático e expressa as diferentes correntes políticas e ideológicas
da sociedade.
Os
dois episódios ocorridos em menos de 15 dias, nos quais depois de derrotado
Cunha tramou na calada da noite e repetiu a votação do mesmo tema no dia
seguinte, não encontram paralelo na história do parlamento brasileiro. Tanto em
relação à questão do financiamento das campanhas como na redução da maioridade
penal, Cunha rasgou sem cerimônia o regimento da Câmara e atropelou as regras
básicas que sustentam o funcionamento de qualquer parlamento : a palavra
empenhada e os acordos firmados.
Sua mente deformada por um autoritarismo doentio desconsidera preceitos democráticos fundamentais. Ao impedir a entrada de pessoas nas galerias para acompanhar as votações, ele nada mais faz do que expressar seu desprezo pela participação popular e pelo fato óbvio de que a Câmara não pertence aos nobres deputados, mas sim ao povo que elege seus representantes. Pressionar deputados, portanto, é um direito do eleitor.
Sua mente deformada por um autoritarismo doentio desconsidera preceitos democráticos fundamentais. Ao impedir a entrada de pessoas nas galerias para acompanhar as votações, ele nada mais faz do que expressar seu desprezo pela participação popular e pelo fato óbvio de que a Câmara não pertence aos nobres deputados, mas sim ao povo que elege seus representantes. Pressionar deputados, portanto, é um direito do eleitor.
Cunha
na presidência da Câmara é a consagração do atraso social e político. É um
monumento à regressão civilizatória e um atentado permanente à laicidade do
Estado. Haja vista a pauta das trevas que estimula, os projetos obscurantistas
que desenterrou e faz tramitar na Câmara, alguns até em caráter de urgência.
Para completar o desserviço à causa republicana, Cunha nomeou irmãos de fé
evangélica para cargos-chave na estrutura da Câmara.
Em
1993, o eleitor brasileiro foi convocado a decidir através de plebiscito se
desejava continuar no regime presidencialista ou mudar para o parlamentarismo.
Ganhou o presidencialismo com mais de 70% dos votos. Só alguém que padece de
um déficit abissal e insanável de compromisso democrático pode tramar
contra a vontade da população brasileira e articular a votação de uma emenda
parlamentarista pela Câmara. E o PIG noticiou essa movimentação golpista de
Cunha da forma mais natural. Também é aquela história : de onde menos se espera
... é que não vem nada mesmo.
Enrolado
na Lava Jato e com um histórico alentado de denúncias e processos judiciais,
Cunha, com seu telhado de vidro gigantesco, conta com o apoio da mídia mais
canalha do planeta para solapar o governo da presidenta Dilma, inclusive, pausa
para risada como diz o Paulo Nogueira, fazendo cobranças de natureza ética e
moral.
O
problema é que Cunha não está só. Ele cavalga impulsionado por um sentimento de
intolerância e de ódio que hoje envenena o Brasil. Os 300 e poucos votos que o
golpe da redução da maioridade obteve na noite desta quarta-feira, 1 de julho,
são reveladores de que para a Câmara dos Deputados o céu é o limite para a
liquidação dos direitos mais comezinhos da cidadania.
Diante
da preocupação extrema com o presente e com o futuro do país, não há como não
lembrar da seguinte pergunta metafórica : quem sai vencedor numa corrida entre
um tubarão e um cavalo ? Depende, é claro, da raia de disputa, se no mar ou na
terra. Ou seja, nesse Congresso democratas e progressistas perderão todas. Mas,
nas ruas, na sociedade e nas redes têm chances de virar o jogo. Não há tempo a
perder.
Por: BEPE DAMASCO
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